Encantamento com Um Poema Acontece

Por Nelson Barros

 

Um poema acontece quando os olhos de um menino pousam, deslumbrados, diante de um Rolls Royce, estacionado dentro de uma vitrine, que exibe, ao fundo, “As Meninas”, do pintor espanhol Velásquez. Esse espanto, retratado numa tela que vi, há quase 40 anos, me parece tão vivo quanto agora, quando esse mesmo menino, hoje aos 80 e poucos anos, nos coloca num trem bala, sim, num trem rápido como a velocidade da luz, e nos conduz pela história da humanidade.

A estação pode ser uma foto espetacular, que também conta a história do mundo, feita num campo de futebol. As paradas podem ser na Gran Via de Madrid (cidade que também adoro) ou num açude de uma cidade do interior da Paraíba, onde um homem a/n/d/a e n/a/d/a sobre as águas, como fez, um dia, talvez, o mesmo rapaz que abre os braços atrás do menino que tenta evitar o gol.

O trem para mas não para. As imagens do mundo vão se sucedendo em technicolor, em preto-e-branco, em fotogramas, em lembranças de vivos e mortos que não se foram.

O trem testamento atravessa mundo e vida. Eu não quero que pare. Mantenho os olhos abertos, como naquela cena do filme “A Laranja Mecânica”. E tento fechar os olhos, para ver, de novo, a Vitória de Samotracia, sem cabeça, mas com asas.

Assistir o encantamento dos seus olhos e ouvidos, através desses poemas longos é, para mim, um deleite.

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