DE OLHO NA ESTANTE: os bastidores da escrita e do mundo editorial e dos autores não-canônicos

Por Johniere Alves Ribeiro

 

Um  livro pronto para ganhar prêmios. Começaria com esse trocadilho os comentários sobre o romance de Lourenço Dutra, lançado pela Editora Arribaçã. Digo isso mesmo sem saber se Dutra realmente escreveu pensando nas arenas dos circuitos concurseiristas que invadiram o Brasil nesses últimos tempos. Não que seja contra as premiações, mas… Sempre existe um MAS.

Ler “O homem que escrevia para ganhar prêmios” me apareceu como uma boa surpresa. Todos que aqui estão acompanhando o DE OLHO NA ESTANTE já compreendeu que gosto de conhecer autores contemporâneos , principalmente aqueles que nos apresentam uma boa história. Nesse sentido, Lourenço Dutra faz isso bem. E conta a história de dois amigos Jaime e Zé Paulo. O primeiro um escritor “profissional”, com vários livros publicados em editoras chamadas de alternativas. Já o segundo é aquele amigo que não compreende muito sobre Literatura e o fazer da escrita para esse campo, contudo a todo momento faz comentários sobre as obras dos amigos , bem sobre aquilo que o motiva a insistir, mesmo sem um reconhecimento dos leitores e das grandes editoras.  Porém, dentro da atmosfera do inusitado Dutra narra uma reviravolta no construto deste enredo. Mesmo Jaime sendo um autor fissurado com o anseio de ganhar prêmios por aquilo que escreve.

E “você acha que um escritor precisa ganhar prêmios para ser conhecido?”

Diria que tal questionamento perpassa toda a obra. Seria uma espécie de estribilho na dicção narratológica da obra aqui apresentada. Desse modo, o leitor está diante de um metaromance, no qual expõe todos os dissabores daqueles que produzem literatura em um mercado editorial minoritário em nosso país e tenta sobreviver em um mar de tubarões donos das maquinarias produtoras de livros em nosso e que, de alguma forma, controla mídias e impõe seus autores como sendo aqueles que “não podem deixar ser lidos” e que são “os melhores” porque estão nas grandes corporações editoriais.

Diante desses aspectos, “O homem que escrevia para ganhar prêmio” deixa claro ao leitor as ambivalências do ser escritor nesse contexto do livro no Brasil. Assim,  Lourenço Dutra, em uma linguagem irônica, crítica e leve – toca em temas melindrosos, desvelando o glamour criado em torno da cadeia dos livros:  a vaidade, as feiras literárias, os conchavos para que  fascículos veicule autores novos, as performances dos escritos em saraus, etc. Contudo, Dutra não faz isso com ranço ou mágoa, é perceptível tanto no ritmo do romance quanto nos vocábulos escolhidos pelo romancista que ofertam o tom de humor e  também de humanidade a cada linha escrita e na elaboração dos seus personagens. O autor aqui apresentado nos lembra “Bruzundangas” de Lima Barreto, que nos desvela o cotidiano dos jornalistas e seus dissabores em suas edições nos jornais.  Enquanto Dutra nos demonstra a realidade de quem lança um livro no Brasil e tem que fazer tudo em sua cadeia do seu livro, desde a produção até a venda.

Portanto, vale muito conhecer os meandros d'”O homem que escrevia para ganhar prêmios”. Fique conosco DE OLHO NA ESTANTE.

 

Johniere Alves Ribeiro é professor-doutor e resenhista parceiro da Arribaçã. O texto acima foi publicado na seção “DE OLHO NA ESTANTE”, em seu perfil no instagram: @johniere81

 

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O livro “O homem que escrevia para ganhar prêmios”, de Lourenço Dutra, pode ser adquirido no site da Arribaçã, no seguinte link: http://www.arribacaeditora.com.br/o-homem-que-escrevia-para-ganhar-premios/

 

A obra está disponível também no formato e-book na Amazon.

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