Ditadura e religião são abordadas em “Peccatum”

Como surgiu a ideia de escrever sobre o assunto explorado no livro? Houve alguma influência pessoal para escrever sobre o pecado de uma mulher dedicada à religião?

Chris Herrmann: Sempre há alguma influência pessoal, seja de algo que vivenciamos na pele, de perto, de ouvirmos ou  sonharmos. No meu caso, fui criada em uma família católica. Fui batizada, crismada e participei de grupo jovem da igreja na  adolescência. Minha mãe era extremamente religiosa e meu pai, militar, ironicamente, era ateu. Por motivos diferentes do meu pai, hoje também sou ateia.

Existem planos de lançamento presencial para “Peccatum”?

CH: Sim, existe. É provável que o faça no ano que vem. Obviamente que ainda não posso planejar de forma exata e concreta. Tudo vai depender da situação daqui para frente. Espero que até lá o fantasma do coronavírus esteja sob controle no Brasil e também aqui na Europa. Mas o desejo é forte.

Houve alguma referência literária direta para escrevê-lo?

CH: Diretamente, eu diria que não. Mas de alguma forma, os personagens femininos de Clarice Lispector me impressionaram e me encantaram pela riqueza da densidade psicológica. Conflitos internos narram um mundo bastante complexo que nós mulheres vivenciamos em todas as épocas.

No geral (de literatura ou outras linguagens artísticas), em quais referências você se baseia para suas criações?

CH: Eu me baseio em todas as linguagens artísticas que já tenha vivenciado ou experimentado. Em “Peccatum”, por exemplo, há várias. No prefácio da romancista Rosângela Vieira da Rocha, ela observa na minha narração uma influência poética. Eu também sou poeta e tenho quatro livros de poesia publicados. A personagem principal toca piano. Eu sou musicista e musicoterapeuta. Formei-me em piano e teoria musical no Conservatório Brasileiro de Música. A mesma personagem é artista plástica, pinta paisagens da cidade em óleo sobre tela. Minha falecida mãe também foi artista plástica, e na minha sala aqui em Duisburg, na Alemanha, uma belíssima tela de paisagem em óleo sobre tela que ela pintou e me presenteou em 1987. Como se percebe, as artes fazem parte da minha vida e se integram  também nas minhas obras.

Este é o seu segundo romance. O que mais te atrai no gênero e o que te fez se dedicar a ele depois de escrever e lançar tantos livros de poesia? Como escrever poesia te desafia e como escrever romance te desafia?

CH: Escrever poemas sempre me encantou desde menina. Não chegou a ser um desafio, a não ser quando resolvi transformá-los em livros, obviamente. Organizar um livro é bem diferente de apenas escrever sem compromisso. Aliás, nunca escrevi com o compromisso de agradar a leitores simplesmente, mas de realizar algo de que me orgulhasse por sem bom. Da escolha dos poemas ao título, é preciso que haja uma comunhão de ideias. Uma coesão no meio do caos daqueles pensamentos e o resultado é sempre imprevisível. Em alguns momentos, estimulantes e em outros, frustrantes. Já o romance, confesso que guardava o desejo em mim, e ao mesmo tempo, a insegurança. Há tantas e tantos romancistas de língua portuguesa fantásticos que nos cercam. Eu tinha receio de apresentar uma obra fraca e dispensável. Por esse motivo, resolvi esperar o momento em que me sentisse amadurecida o suficiente. E então experimentar este novo gênero de linguagempor mim ainda pouco explorada, a não ser em prosa poética, crônicas e contos. Depois que lancei o meu primeiro romance Borboleta – a menina que lia poesia, percebi que um mundo novo se abria a minha frente, já que houve uma recepção positiva de leitores, bem como belíssimas resenhas de escritores mais experientes do que eu. Contar uma história e mergulhar em suas profundezas mais desconhecidas e inesperadas, tem sido um exercício bem diferente da poesia. Um mundo novo e fascinante. Um desafio que tem me trazido muitas surpresas e alegrias.

Como está a produção no período de isolamento social? Planeja se dedicar a outros trabalhos ou dará uma pausa neste período?

CH: Para minha surpresa, tenho escrito prosa e poesia sem parar neste momento de isolamento. Poemas compactos (minha especialidade) e crônicas na minha coluna da Revista Ser MulherArte, da qual sou editora. Porém, também tenho material guardado nas gavetas. Quem sabe irei abri-las e organizar mais algum livro de poemas, contos ou prosa poética até o ano que vem. No momento, estou organizando uma antologia digital de poesia com mais de cem poemas de poetas mulheres. O lançamento será no mês de Maio de 2020. Nossa antologia se chama Porque somos mulheres e tem um quê feminista, assim como a revista eletrônica. Como se vê, pausarainda não faz parte dos meus planos atuais.

(Entrevista concedida à jornalista Cairé Andrade e publicada no jornal A União em edição do dia 22 de abril de 2020)

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