Entrevista: professor Lúcio Flávio Vasconcelos.

O professor Lúcio Flávio Vasconcelos é autor de várias obras que atualizam a história, fruto de pesquisas importantes que vem desenvolvendo. É professor titular da UFPB nas disciplinas de História da América Latina Colonial e História dos Estados Unidos. Tem pós doutorado na Universidade de Coimbra, em Portugal, doutorado em História Social e mestrado em História Econômica, pela USP SP. Dia 18 próximo lança, no Café da Usina Cultural Energisa, às 19h, o livro “Paraíba Colonial: Guerras, resistência indígena e domínio imperial” onde analisa, entre outros temas, as várias guerras contra os povos originários.

 

 . Pouco se sabe da história sobre a perspectiva dos indígenas. Foi esse o objetivo do novo livro?

– Durante o século XX, apenas antropólogos e sociólogos haviam estudado os povos originários, com destaque para Florestan Fernandes e Darcy Ribeiro. Mas, felizmente, nos últimos 30 anos a historiografia brasileira vem dedicando-se com mais atenção aos estudos indígenas. Do início do século XXI aos dias atuais, a temática indígena tem ganhado relevo, principalmente na análise da importância dos indígenas na formação cultural e econômica do Brasil. Os recentes estudos históricos têm demonstrado que, sem a intensa participação dos povos indígenas, explorados maciçamente pelos colonos portugueses, a colônia não teria alcançado seu destaque no cenário internacional, principalmente na produção do açúcar, como também em outros produtos. Quanto aos indígenas na Paraíba, a historiografia clássica (com destaque para Irineu Pinto, Maximiano Lopes Machado e Horácio de Almeida) não havia analisado a forte contribuição dos povos originários, constituídos pelos potiguaras e tabajaras (que ocupavam o litoral) e tapuias (que habitavam o Sertão).

 

.  O que mais relevante o senhor destacaria nessa sua pesquisa?

– A pesquisa para a realização do livro levou três anos para a concretização. Ao longo dos estudos fiquei convencido da relevância da violenta guerra travada contra os povos originários que se estendeu do litoral ao sertão, durante os primeiros duzentos anos do processo de conquista e colonização da Paraíba. Durante esse largo período, os povos originários, principalmente os potiguaras e tapuias, resistiram de todas as formas contra o domínio português. A guerra, que fazia parte da cultura indígena, foi o principal meio de luta contra o domínio imperial. Por fim, os indígenas que resistiram ao domínio português foram subjugados, escravizados e obrigados a trabalharem nos engenhos e demais serviços dos colonos.

 

. Qual foi o papel dos Tabajaras e dos Potiguaras no processo de chegada e colonização dos portugueses?

– Os tabajaras e potiguaras, apesar de pertencerem ao mesmo tronco linguístico tupi, eram povos rivais. Seus guerreiros digladiavam entre si para obtenção de prestígio e poder, pois a guerra fazia parte da essência cultural dos tupis. Como os potiguaras estavam resistindo fortemente às investidas coloniais das forças luso-brasileiras, a aliança entre tabajaras e conquistadores foi fundamental para o domínio colonial português. Sem a aliança entre tabajaras e colonizadores, a conquista da Paraíba iria demorar muito mais tempo e ceifar muito mais vidas dos soldados portugueses.

 

. Como era o relacionamento dos indígenas com outros invasores, como franceses, por exemplo, antes da chegada dos portugueses?

– Os potiguaras eram exímios diplomatas e negociadores. Quando os portugueses passaram a colonizar o Nordeste, os potiguaras eram chamados “os senhores da costa”, pois dominavam o litoral desde Pernambuco até o Maranhão. Com a grande quantidade de pau-brasil existente no litoral paraibano, muitos mercadores franceses passaram a frequentar a região do litoral chamada posteriormente de Baía da Traição. Sem o consentimento e o trabalho dos potiguaras, a extração e comercialização do pau-brasil seria impossível. Sendo assim, potiguaras e franceses formaram uma aliança política e comercial de longa duração, onde os indígenas recebiam facas, machados e armas de fogo em troca do pau-brasil. Quando os holandeses passaram a atacar o Nordeste, objetivando controlar a produção do açúcar, perceberam que, sem uma aliança com os indígenas, seria impossível conquistar a região. Sendo assim, fizeram um acordo com parte do potiguaras e asseguraram a permanência na região por 24 anos, de 1630 até 1624. Durante esse período, alguns líderes potiguaras partiram da Baía da Traição e foram estudar em Amsterdã, e se converteram ao calvinismo. Com o fim da ocupação holandesa, a guerra de extermínio contra os potiguaras recrudesceu e muitos deles foram massacrados e escravizados.

 

(Entrevista a Rosa Aguiar publicada no site Mais Turismo e Cultura)

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O livro “Paraíba Colonial: Guerras, resistência indígena e domínio imperial”, de Lúcio Flávio Vasconcelos, pode ser adquirido AQUI

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