NA ESTANTE: Time escalado para a flor do gol, um mosaico de leitura em “O leitor de si mesmo”

Por Johniere Alves Ribeiro

 

“O leitor de si mesmo” é o título do novo livro de Sérgio de Castro Pinto. O mesmo é uma coletânea de alguns dos seus textos sobre literatura, teoria, livros e cultura em geral, publicados no jornal A UNIÂO/PB, um dos poucos jornais ainda impresso no Brasil. O autor de “O cerco da Memória” mantém a tradição do nascedouro da crítica literária brasileira: a publicação em jornais. Agora compilados em livro, os textos de Sérgio de Castro Pinto facilitam o estudo, bem como sua perenidade, diferente fugacidade inerente às folhas impressas dos jornais.

Disto isso, a escrita de Castro Pinto se estabelece em 3 movimentos importantes  em sua nova obra, mas que poderiam ser 4: 1) uma linguagem acessível, sem academicismo, de modo que entrega ao leitor uma boa comunicação e conteúdo de qualidade; 2) potencializa a inserção do cidadão comum ao mundo das letras; 3) conduz aos leitores do periódico a necessidade da literatura, uma espécie de arejamento do ar social; por tabela e daí o movimento 4) fomentar uma base leitora importante.

As 118 páginas de “O leitor de si mesmo” são urgentes para a conclamação à leitura e à imaginação do leitor. Ou simplesmente mais uma fonte importante de pesquisa para estudantes em Letras, já que o autor consegue tocar em temas ricos para a teoria literária. Pois, como bem sabemos, além de poeta experiente, participante de um grupo literário de relevância na Paraíba, Sérgio de Castro Pinto lecionou como professor titular na Universidade Federal da Paraíba. Assim, é fácil perceber na obra aqui em questão, o desfile analítico de poemas, de contos, de romances e de crônicas de escritores paraibanos ou não, mas que não escapam ao seu radar de crítico.

De Castro Pinto nos apresenta um repertório respeitável de leitura. Leitura que elucida momentos importantes do fazer da escrita ficcional paraibana e brasileira. Além disso, vamos conhecendo os principais teóricos que compreendem o pensamento professoral e o pensamento crítico do poeta criador de “Zoo imaginário”. Essas características associadas, demonstram a capacidade intelectual de Sérgio, seu espírito docente, bem como sua qualidade primeira: a de leitor.

Quem quiser conferir tudo isso, é só ler o texto “Plumagem de vento”, no qual relata o seu contato com a expressão “fazer uma foto” e a analogia que fez com o clássico livro “Mimesis” de Auerbach. De tal reflexão, Sérgio de Castro nos brinda com comentários sobre a teoria dos haicais, a relação desse gênero  e sua captação da natureza e a conexão com  movimento que faz o fotógrafo na captação das imagens, seja da natureza ou não.

“Há, evidentemente, aqueles não se comprazem com a passividade, com a servidão de apenas olhar e acatar a paisagem sem nela interferir, sem darem o ar de sua graça (p.23)” , afirma o autor d’”O leitor de si mesmo”. Ou ainda ler “Na algibeira das palavras”, “Relendo Vitória Lima”, “Lentes de Alcance”, “Mosaico, de Marcelo Mourão”, “Lugar dos dissidentes”, “Uma obra em progresso”, dentre outros artigos preponderantes do livro.

A obra em questão, lançada pela Arribaçã, é como um time de futebol, para usarmos a mesma semiótica de “ A flor do Gol” – livro de poesia de Sérgio de Castro Pinto.  Temos, assim, a escalação de uma seleção na qual os jogadores são livros,  histórias, poemas e autores renomados, compondo um Estádio/Arena da leitura literária, todos a postos e firmes para acessarem “a flor do gol”. Dentre eles temos: W. J. Solha, Rinaldo de Fernandes, Sérgio Faraco, Mô Ribeiro, Ângela Bezerra de Castro, dentre outros jogadores que se posicionam em qualquer parte do plantel montado por Castro Pinto.

“O leitor de si mesmo” nos oferece  acesso às interfaces de um grande mosaico de leitura. Nos conectando aos principais gêneros da literatura e teorias da Literatura. Cada página do livro é uma peça importante na visualização da imagem que o livro/mosaico monta. Contudo, quando vamos enveredando pelos entremeios da escritura do autor o título vai nos tornando clarividente, visto que vamos entendendo que ao lermos as obras, na verdade, vamos lendo a nós mesmos. Nosso interior é que nos forja as lentes de enxergar o mundo nos livros e a nossa volta.

Também posso afirmar que em “ O leitor de si mesmo” a “teoria não pode se reduzir a uma técnica pedagógica – […] – mas isso não é motivo de fazer dela uma metafísica nem uma mística” (Compagnon, 2012). Digo, que Sérgio de Castro Pinto nos conta “apenas não propriamente o que se vê, mas o que leu”, parafraseando Wagner, citado pelo próprio Sérgio.

Por isso, o DE OLHO NA ESTANTE indica o livro “ O leitor de si mesmo”, Arribaçã, 2022.

 

* Johniere Alves Ribeiro é professor-doutor e resenhista parceiro da Arribaçã. O texto acima foi publicado na seção “DE OLHO NA ESTANTE”, em seu perfil no instagram: @johniere81

 

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O livro “O leitor de si mesmo”, de Sérgio de Castro Pinto, pode ser adquirido no site da Arribaçã clicando AQUI

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