“Nenhum Espelho Reflete Seu Rosto”: Onde Rosângela Vieira Rocha nos entremostra as Joias da Sua Escrita

Por Joana Belarmino

Antes de tudo, uma dica: Não inicie a leitura do livro de Rosângela Vieira Rocha se você tiver um compromisso inadiável, se tiver de ir trabalhar ou fazer uma visita a um amigo. A estória de Helen nos arrebata do início ao fim. A leitura flui, e, por horas a fio, você se esquece da sua agenda, do seu mundo real, e mergulha fundo nos dilemas, nas ousadias, no sofrimento da personagem, muitas vezes tão parecido com o sofrimento de outras mulheres, envolvidas pela paixão.

O livro de Rosângela, de cara, nos entrega dois presentes: a escrita é boa, muito boa. A qualidade física do livro também, o que nos diz que a #EditoraArribaçã veio para ficar e com vontade de explorar os talentos não só da terrinha, mas do país. A avezinha interiorana vai longe, com seu zelo e amor pelos livros, nos presenteando com essas joias raras da literatura contemporânea.

E eis que retomo esse texto séculos e séculos depois de o ter iniciado. Nosso mundo mudou. Cada um de nós experimenta fisicamente as fronteiras, a limitação das janelas, os espaços milimetrados das nossas casas, as máscaras, cheirando a água sanitária e sabão amarelo.

Tempo é tudo o que temos. Então é gastá-lo entre os livros, esses volumes mágicos que nos movem a lugares insuspeitos, sem nos tirar do lugar.

Rosângela escreveu a narrativa de “Nenhum Espelho Reflete seu Rosto” com tenacidade e paciência. O tema maior era indigesto, duro, ela então teceu, por dentro daquela trama corrosiva, uma outra narrativa.

Entregou-nos então, a narrativa da mulher que se refaz, que se lava e se burila de novo, inventando suas joias.

A personagem vive uma estória de amor que fracassa. Quantos romances não tratam do mesmo tema, o fracasso do amor? Rosângela Vieira Rocha vai fundo no tema do fracasso. Persegue o tipo especial, esse indivíduo psicopata, afeito ao artesanato persistente da destruição do espírito feminino escolhido no grande celeiro da internet. Ivã ensina a Helen a amarga lição da dependência, dos pequenos e grandes gestos, medidos e calculados na cozinha do mal, para transformá-la numa mulher despersonalizada e triste.

É na preparação da sua exposição, no trabalho com as joias, que assistimos ao despertar de Helen. “Nenhum Espelho Reflete seu Rosto” surpreende-nos, e saímos da leitura querendo aplaudir a essa personagem, que nos entremostra, com franqueza cristalina, suas feridas, suas dores, sua alegria por recomeçar.

Saímos do livro gratificados pela escrita firme de Rosângela Vieira Rocha, que por certo já está ocupada, a nos contar uma outra estória, plena de realidade e de arte.

 

Gênero: Literatura brasileira

Editora: Arribaçã

Autor: Rosângela Vieira Rocha

ISBN: 978-85-906976-5-7

Origem: Nacional

Ano: 2019

Edição: #LeiturasDeQuarentena, #FiqueEmCasa!

 

(Texto publicado no perfil de Joana Belarmino, no Facebook, no dia 3 de maio de 2020. Joana Belarmino é escritora, professora e jornalista)

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