Revisitando crônicas

Hoje, em João Pessoa, o escritor e juiz paraibano Adhailton Lacet Porto

lança a segunda edição da antologia ‘Os ditos do Quiçã’

 

Por Guilherme Cabral

 

O escritor e juiz paraibano Adhailton Lacet Porto lança a segunda edição do livro “Os ditos do Quiçã” hoje, a partir das 19h, na Livraria do Luiz no MAG Shopping, localizada na cidade de João Pessoa. A obra, que tem 202 páginas, custa R$ 50 e é publicada pela Arribaçã Editora, de Cajazeiras (PB), tem 80 crônicas sobre temas variados, escritas desde o ano de 1986 até as mais recentes. Durante o evento, o livro será apresentado pelo presidente da União Brasileira de Escritores – Paraíba (UBE -PB), Luiz Augusto de Paiva, entidade da qual o autor é membro, e pelo jornalista Kubitschek Pinheiro, que assinou a orelha da primeira edição. Haverá também uma apresentação do saxofonista Wallison Mesquita, que tocará música instrumental e MPB. “Decidi lançar a segunda edição porque a primeira, publicada também pela Arribaçã, em novembro de 2020, já se esgotou e ainda havia procura pelo livro. A diferença em relação à edição anterior é que essa nova tem a capa produzida por Leonardo Guedes e, na contracapa, trechos de textos do jornalista e escritor Gonzaga Rodrigues e do poeta e crítico literário Sérgio de Castro Pinto escritos sobre o lançamento da primeira edição e orelhas do editor e poeta Linaldo Guedes”, justificou Adhailton Lacet, que é natural da cidade de João Pessoa, é juiz de Direito aprovado em concurso público desde 1989 e, atualmente, atua na área da infância e juventude da Comarca da capital paraibana.

Adhailton Lacet aborda diversos assuntos em sua obra, a exemplo da música, literatura e o universo feminino. No entanto, ressaltou mais dois temas que também trata no livro. Um é o ressentimento de escritores. “Li no jornal tabloide Rascunho, de literatura, enquete perguntando o que os escritores acham do meio literário. Uns responderam não frequentar; outros consideram um ambiente de vaidade e ainda houve autor que se sentia incompreendido nesse meio, o que me fez escrever sobre esse assunto”, comentou ele. O outro tema é sobre sua própria infância. “Nasci no bairro do Varadouro, em João Pessoa, que me fornece matéria-prima para minhas crônicas, a exemplo de Uma pedra no meio da praça, inspirada na Praça da Pedra, que existe naquela área, e que faz alusão ao poema sobre uma pedra no meio do caminho, de Carlos Drummond de Andrade”, comentou o escritor.

O autor disse que, por causa da abrangência dos temas que aborda, decidiu intitular o livro com base em epígrafe do escritor paraibano Ascendino Leite contida na obra Doces vozes do silêncio. Ele também justificou a opção pelo gênero literário. “A crônica me deu mais possibilidade de publicar em jornais e nunca parei de escrever e, nos últimos cinco anos, passei a escrever quinzenalmente para a página de Opinião do jornal Diário de Pernambuco e semanalmente para o site MaisPB. A crônica é mais fácil, me dá liberdade de explorar os assuntos, inclusive a falta de assunto, o que é mais difícil de escrever”, afirmou o escritor, acrescentando que no livro há crônicas em tom de bom humor, a exemplo da intitulada “Segredo de polichinelo”, que fala sobre a tentativa de Carlos Drummond de Andrade esconder um caso extraconjugal que todos já sabiam.

Na Paraíba, vários juízes também são escritores e Adhailton Lacet justificou o motivo desse pendor de magistrados pela literatura. “Não achei interessante falar sobre o universo forense nesse meu livro e, se houver alguma crônica, é em pouca quantidade. A gente lida com a palavra e a sentença nada mais é que o sentimento do juiz a respeito da análise das provas levadas ao processo e isso só pode ser feito através das palavras e isso facilita para se escrever”, disse ele. Adhailton Lacet antecipou que já tem novos projetos literários. No próximo ano, pretende lançar mais uma obra de crônicas, batizada de “Os abismos do aliás”, no qual pretende incluir 70 crônicas. Para o próximo ano, também, ou em 2024, planeja publicar o livro de poemas no estilo haikai. Ele lembrou que começou a ler e escrever poemas e pequenos textos aos 13 anos de idade. Em 1977, lançou em parceria com o poeta Fernando Almeida a primeira antologia de poemas “Lamento a dois”

Confira uma das crônicas que está presente no livro

 

Segredo de polichinelo

 

Quando morreu no ano de 1987, aos 84 anos de idade, Carlos Drummond de Andrade era considerado o maior poeta brasileiro, título que nunca aceitou por acreditar que não existe poeta maior. Consagrado pelo público leitor e pela crítica não mais se interessava em escrever. Dizia que “Fiz mais de quarenta livros. É uma quantidade bastante apreciável. Agora, já é o momento de deixar o trabalho e ficar assistindo aos novos que vão aparecendo, vão se manifestando e vão despertando interesse”.

Sempre levou uma vida discreta e por onze anos viveu como funcionário público no Ministério da Educação, exercendo o cargo de secretário do então ministro Gustavo Capanema, seu amigo da época de juventude. Ao largar o serviço burocrático foi trabalhar como jornalista. Pai de família exemplar e marido acima de qualquer suspeita. Mas como dizem que todo mundo tem um segredo, com Drummond não poderia ser diferente. E que segredo!, mesmo para o homem reservado que era. Um segredo que esteve ao seu lado na hora de sua morte, segurando sua mão, num leito de UTI numa clínica no bairro de Botafogo, no Rio de Janeiro. Esse segredo tinha um nome: Lygia Fernandes, uma ex-colega de trabalho.

Drummond nunca se separou de sua esposa Dolores Dutra de Morais, com quem se casou em 1925, mas manteve um namoro secreto com Lygia por trinta e seis anos, desde que a conheceu quando ela tinha vinte e quatro anos e ele homem maduro de quarenta e nove anos de idade, isso em 1951. Tinha uma pedra no meio do casamento de dona Dolores. E o poeta conhecido como “urso polar”, achava que ninguém sabia de seu caso que àquela altura já estava em bocas de matildes. No meio do casamento teve uma pedra, uma pedra discreta e elegante que fez o bardo viver, tal qual Vinícius, uma vida de poeta, sem boêmia, mas com um segredo de polichinelo.

 

(Matéria publicada no jornal A União, edição de 22 de julho de 2002)

 

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O livro “Os ditos do quiçá”, de Adhailton Lacet Porto, pode ser adquirido no site da Arribaçã no seguinte link: http://www.arribacaeditora.com.br/os-ditos-do-quica/

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