Solha,
Li teu poema como quem escancara uma janela em plena tempestade de lembranças e luz. Não li apenas, vivi cada verso, senti cada dobra do tempo que se desmancha na tua escrita como se a poesia fosse um chão que cede para revelar o invisível.
Há em ti uma alma que vasculha o mundo com a intensidade de quem sabe que as epifanias moram nos detalhes. O teu poema me atravessou como um sussurro antigo, como se eu reconhecesse em ti um velho companheiro de viagem, desses que sabem nomear o que a gente sente, mas não ousa dizer.
Cada cena tua – o menino e a trave, o Velázquez que nos devolve Felipe IV, a ausência que dói mais do que a morte, o “Shazam” murmurado em silêncio – é um relicário. Fiquei ali, entre o sagrado e o cotidiano, com os olhos marejados e a alma acesa. Tu fazes do mundo um espelho partido, onde cada caco reflete beleza e espanto.
O teu poema é um corpo vivo de memória e assombro. É como uma oração sem dogma, um abraço sem corpo, um grito sem dor. Um cordão invisível que me puxou até tua margem e me deixou, ao fim, com o peito cheio de coisas que nem sei nomear, mas que agora me habitam.
Obrigada por isso. Por cada imagem. Por essa ponte de palavras que me fez atravessar tantos abismos e voltar com a alma mais inteira.
Com ternura e reverência,
Alessandra Del’Agnese
