“Depois da folha” é poesia atualizada, antenada com o agora, com o internetês, com o social, mas também com a busca do homem por si mesmo, como bem o fez Agenor de Miranda Araújo Neto, o poeta “exagerado” do pop-rock dos anos de 1980. E Cazuza não está presente só nas epígrafes do livro de Rony Santos. Está nas referências à sua poesia, nos diálogos que o autor mantém as suas letras, que marcaram e influenciaram toda uma geração.
Rony Santos, cronista urbano e do seu tempo, faz uma poesia latente, sentida, com flagras das ruas de sua cidade, João Pessoa, que poderia ser qualquer outra, com sua violência, agruras, correrias, mas também com a poesia que teimosamente digladia com o concreto e o asfalto e os barracos e as calçadas… e suas metáforas, como já havia feito no seu livro de estreia: (Re)verso da palavra (Arribaçã, 2023).
A poesia intimista de Santos, nos entretantos, não esbarra nas influências cazuzianas. Os seus versos dialogam com Drummond, Chico Buarque, Leminski, Belchior, passeia pelas cores de Picasso e Frida, flerta com a metapoesia, como em “Parir”:
Na rigidez dos dedos,
a má criação
estende a madrugada
a dentro
o sol desvirgina as palavras
o poeta adormece
e aborta o poema.
A intertextualidade permeia as páginas do livro, com referências diretas a outros poemas, com destaque para os versos drummondianos em:
Havia um grão de pedra
no meio do nosso caminho.
Por fim – e para não dar mais spoiler do que o leitor irá encontrar nas páginas a seguir -, diria que se trata de uma poesia engajada, cheia de gritos sociais e, paralelamente, com erotismo e entrelinhas infindas, a começar pelo título do livro.
(*) Editor