O livro de Lourenço Dutra já começa provocativo pelo título, que pode evocar inúmeras leituras e interpretações, tanto no emprego de valsa quanto de sentidos.
Tomando a primeira, fui atrás da sua origem e encontrei que “valsa” viria da palavra alemã “waltzen”, que poderia ser traduzida como “dar voltas”. E é isto, a meu ver, que o poeta propõe a nós, leitores: que demos tantas voltas sejam necessárias para nos encontrarmos nas páginas deste livro. Como na dança, que os pares precisam estar em sintonia para não tropeçarem um no outro.
Assim, que nós não tropecemos nas palavras, versos e entrelinhas com que o autor nos brinda nestes poemas.
Quanto à segunda, ele brinca com os mais variados sentidos de palavras como pena, bancos, etc e tal. Como um ourives que lapida cada joia com toda minúcia.
Ora, o que dizer quando o poeta consegue juntar Leminsky e Capiba em nove linhas nas ladeiras de Olinda?
Ou quando reflete sobre a tristeza de nós, lusófonos, que testemunhamos e vivenciamos a invasão de outras línguas no nosso cotidiano, no Shopping ou indo à academia para sermos/parecermos fitness?
Entre tantos nomes da cultura pop (outro estrangeirismo), Lourenço Dutra busca também o brasileiríssimo Belchior para falar das várias mortes a que somos submetidos nos nossos anos vividos e morridos com a naturalidade que só a poesia permite:
“Ano que vem
Vou morrer de novo…”
Enquanto a morte do próximo ano não vem, sigamos o conselho do poeta:
“Melhor tomar uma cadeira
Pegar um livro
Colocar uma música…”
O livro já temos.