Posfácio de “Em busca do coração no sábado à noite”

Por Lenilson Oliveira*

Um romance denso por natureza, por ter como pano de fundo as agruras humanas, individuais, como são. “Em busca do coração no sábado à noite” tem um narrador – onipresente e onisciente – que desnuda o íntimo de cada personagem com seus desejos, taras, medos, ambições, fracassos, devaneios e outros sentimentos que nos habitam em menor ou maior escala, sem distinção – traduzidos na paisagem do baile de máscaras.

Como um pintor, Jorge Miguel divide sua obra em 40 paisagens, carregadas por tintas emocionais, prendendo o leitor e o chamando para ir “ver” o próximo quadro – e não faltam referências aos grandes mestres da pintura, até no desejo, talento e ambição das personagens Délio e Renato – adolescentes se descobrindo como tais e com seus conflitos próprios.

Podendo ser facilmente classificado como um romance psicológico – com direito a uma personagem psicanalista “estudando” às outras e a si mesma o tempo todo -,       “Em busca do coração no sábado à noite” também mergulha no social da pequena cidade onde é ambientado e dos seus moradores, todos interligados de alguma forma, seja pela miséria ou riqueza e lendas urbanas – também presentes na narrativa.

Tecnicamente, Jorge Miguel se utiliza também da metalinguagem para contar sua história – que o diga o poeta presente nas páginas, como um elo autor-narrador para desaguar na construção subjetiva do leitor. Sim, há também poemas nas páginas. Diria, até que há poemas em todas as páginas, por se tratar de um romance em “prosa-poema”, tal a forma das frases curtas, pontuações rápidas, para serem lidas/degustadas/sentidas sem demora, no ritmo das pessoaspersonagens – assim mesmo, duas palavras emendadas, virando uma só, como o autor faz, recriando substantivos e adjetivos. Ao longo do texto, outras “transgressões” de ordem e de linguagem podem ser vistas e sentidas pelo leitor, enriquecendo ainda mais a narrativa.

Por fim, “Em busca do coração no sábado à noite” é um romance que a Arribaçã Editora tem a maior honra em poder publicar, tanto pelo seu autor, quanto pelo arrojo da sua construção, sendo daqueles que, verdadeiramente, conseguem “prender” a todos quantos os lerem.

Cajazeiras, 02 de julho de 2019

(*) Editor da Arribaçã Editora

Deixe uma resposta