Salve o rei do forrobodó

Por Guilherme Cabral

 

Uma das grandes referências na Música Popular Brasileira, que já é considerado um artista universal, por ser reconhecido no mundo, o cantor e compositor paraibano Biliu de Campina – como é mais conhecido o advogado Severino Dias de Oliveira – é o personagem central do livro “Traquinagens liberadas de Biliu de Campina” (Arribaçã Editora, 90 páginas), de autoria do escritor Noaldo Ribeiro, que será lançado hoje, a partir das 13h, na Vila Sítio São João, localizada no bairro Dinamérica, na  cidade de Campina Grande.

A obra reúne “causos” bem-humorados protagonizados pelo artista versado em “forrobodologia”, é ilustrada pelo chargista e escultor Dilson Rocha e custa R$ 30. Na oportunidade, a programação do evento ainda inclui inauguração de estátua em homenagem ao músico forrozeiro, que também realizará show apresentando repertório formado por uma coletânea de suas canções.

“Quando se resolve escrever alguma coisa sobre alguém, a primeira ideia é a de uma biografia. Mas esse livro, que é dividido em 10 capítulos, com um título para cada um, não é uma biografia. O que eu procurei captar foi a irreverência de Biliu, relatando alguns acontecimentos que o envolveram, ao longo da sua trajetória. É um monte de historietas descontraídas e descompromissadas, que relatam a irreverência e a criatividade de Biliu de Campina”, relatou o autor. “Fiz tudo de memória, não recorri a nenhuma pesquisa e nem conversei com Biliu, porque convivo com ele há muito tempo, ou seja, desde a metade dos anos 1980, e sempre me encontrei e conversei com ele”, detalhou Noaldo Ribeiro.

Concluído em maio, Ribeiro disse que estava ansioso para lançar a obra na época junina. “Depois de terminado mostrei para ele, que gostou do resultado, principalmente como na parte do curriculum vitae, quando coloquei ‘advogado fracassado, forrozeiro de sucesso’, tendo ele rido da situação”. Noaldo Ribeiro comentou que a obra – cuja capa é ilustrada com quadro a óleo da artista plástica Margareth Aurélio, com arte-final de João Damasceno – foi escrita de maneira muito descontraída para o leitor. “O livro não faz maiores análises, a não ser no capítulo Lições de forrologia, no qual Biliu acredita que existe a pré-história do forró, através de artistas como Jararaca e Ratinho, que seria o embrião do que agora é o forró. Ele faz alusão de um conservatório a uma oficina mecânica, onde o funileiro, por exemplo, tem uma maneira de bater no ferro para que tudo saia  bem, assim como faz o músico ao tocar canções regionais; no caso do aboio, o contraponto seria o canto  gregoriano, enquanto a vestimenta do vaqueiro é comparada com a dos monges beneditinos”.

O autor ainda menciona outro episódio relatado no livro, que é o da ocasião, em 2012, em que Biliu de Campina foi se apresentar, com outros artistas que saíram de Pernambuco, no Lincoln Center, em Nova York, nos EUA, no show Mestres do Forró Nordestino: Tribute to Luiz Gonzaga (U.S. debut), e, na cidade, se deparou com o memorial dedicado ao ex-beatle John Lennon. “Ele também já foi convidado para o Abril Pró-Rock, em Pernambuco, tocou forró e a galera gostou. Quanto ao temperamento de ‘popeiro’, por não levar desaforo para casa, acredito que deve vir do tio dele, Zuza Alfaiate. No livro ainda relato o episódio ocorrido na cantina de Manoel da Carne de Sol, um ambiente tradicional em Campina Grande, que atrai políticos, entre outros. Naquele local, Biliu foi desafiado a fazer uma música tendo como palavra-chave ‘defunto’ e ele terminou fazendo a letra”, comentou Noaldo.

 

Defensor do verdadeiro forró

Na contracapa do livro, há um QR code no qual o leitor vai acessar para poder assistir uma entrevista concedida por Biliu de Campina ao jornalista Fernando Gabeira, bem como a presença do artista numa oficina mecânica, alusão à comparação do conservatório à profissão de músico, e algumas músicas compostas por Biliu, encontradas na obra, as quais têm toda a essência dos forrós tradicionais, com um suingue característico dos discípulos do “Rei do Ritmo”, Jackson do Pandeiro, e uma irreverência no duplo sentido das letras, que mostra bem toda a malícia e o bom humor nordestino, mas que, para Noaldo, o sentido é explícito.

No prefácio de “Traquinagens liberadas de Biliu de Campina”, intitulado  Biliu, eterno como Campina, o advogado e presidente da Academia de Letras de Campina Grande, Thélio Farias, lembra de episódio ocorrido em 1991, em Londres, na Inglaterra, onde seu irmão, Taney Farias, foi morar e levou um disco de Biliu na bagagem, entregue a um mineiro que trabalhava como apresentador de programa na BBC, emissora britânica na qual a música do forrozeiro passou a ser difundida para o mundo.

“Biliu é um personagem marcante na história de Campina Grande, não só por ser um artista popular, amado e admirado pelos forrozeiros, nem por se constituir no sucessor de Jackson do Pandeiro. Biliu é criador da ciência da ‘forrologia’ ou ‘forrobodologia’, além do grande do grande defensor do verdadeiro forró, da autêntica música nordestina. A atuação de Biliu em defesa da música autêntica só se compara com a militância de Ariano Suassuna em defesa da literatura popular do Nordeste”, escreveu Thélio Farias.

“Como lembra Noaldo, as raízes de Biliu ‘são o cacto, as palmas, os gatos-do-mato e tudo que representa o Sertão nordestino, incluindo principalmente, o coco, o baião, a cantoria e a embolada. O livro de Noaldo possui cadência musical. Lemos ao ritmo do pandeiro. O texto flui como o som da melhor sanfona. As histórias de Biliu são deliciosas e se perenizam na escrita de Ribeiro’, registrou ele.

 

Matéria publicada no jornal A Uniao, edição de 25 de junho de 2023

 

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O livro “Traquinagens liberadas de Biliu de Campina”, de Noaldo Ribeiro, pode ser adquirido AQUI

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