Por Sérgio de Castro Pinto
Nem sempre as personagens de um livro de memórias possuem projeção social, política, econômica etc. Às vezes, são pessoas simples, discretas, que passariam pela vida em brancas nuvens não fosse o memorialista, que, perspicaz, observador atento, descobre nelas características de personagens romanescas. Quem se lembra de Biela, personagem do excelente “Uma Vida em
Segredo, de Autran Dourado?” Embora simples, tímida, recolhida, ensimesmada, Biela ganhou os leitores e hoje figura entre as personagens mais bem realizadas da ficção nacional.
Se a maioria das personagens do livro “A Casa, o Sítio, a Cidade – Pombal, Crônica, Memória” são desconhecidas do grande público, eis que o narrador lança mão de uma linguagem bem elaborada, substantiva, fazendo com que o leitor passe a conviver não com pessoas de papel e tinta, mas de carne e osso, como se fossem velhas conhecidas.
Tenho para mim que a linguagem é a principal protagonista quer da poesia, quer da ficção, ou ainda do memorialismo, ou de qualquer outro gênero literário, pois, quando mal elaborada, deixam de existir enredos, personagens, paisagens, costumes etc., além de o poema permanecer poema por não possuir folego suficiente para alçar voo e adquirir o estágio, ou o estatuto, da verdadeira poesia.
Pois bem. Consciente do seu ofício de escritor, Elri Bandeira de Sousa investe numa linguagem que não consegue disfarçar a pertinácia e a perseverança do narrador no sentido de atingir a simplicidade, objetivo de muitos e conquista de bem poucos, José Lins do Rego entre esses, autor sobre o qual Elri escreveu pelo menos dois livros: “Fogo Morto – Uma Tragédia em Três Atos” e “Engenhos e Personagens da Meganarrativa de Lins do Rego”.
Licenciado em História e em Letras, doutor em Literatura Brasileira, Elri é professor associado da Universidade Federal de Campina Grande. Erli Bandeira de Sousa, irmão do autor, é o responsável pela apresentação do livro. E a cronista Mariana Moreira pelo texto “Dois dedos de prosa de histórias e memórias”. “A Casa, o Sítio, a Cidade – Pombal, Crônica, Memória” é um lançamento da Arribaçã Editora, Cajazeiras, 2024
(Artigo publicado no jornal A União, em 14 de novembro de 2024)