A CASA. O SÍTIO. A CIDADE: POMBAL. CRÔNICA. MEMÓRIAS

Por Severino Coelho Viana

 

O livro, em si próprio, não é somente um bloco de papel palpável, mas um conjunto de sentimentos e ideias do autor, que envolve muitos adeptos.

Recebemos, com imensa satisfação, o livro intitulado de “A CASA. O SÍTIO. A CIDADE – Pombal – Crónica – Memórias, de autoria do professor/escritor ELRI BANDEIRA DE SOUSA, publicado pela Editora Arribaçã – Cajazeiras – PB, 2024, contendo 343 páginas, que pelo tamanho do tipo de letras é um livro de fôlego, atrativo, persuasivo e cativante pela temática desenvolvida.

A obra literária foi escrita com as ideias oriundas da mente do autor como se fosse correnteza de um rio límpido que leva suas águas mansas que haverão de ficar permanentemente alocadas no cérebro do leitor. Este rio que carrega tantas memórias, é o rio Piancó, na cidade de Pombal, que das suas margens abençoadas da Terra de Maringá, cada filho tem uma bela e comovida história/estória a ser contada.

O gênero textual do livro é a crônica literária, escrita dentro de um raciocínio lógico nascido na lúcida e linear memória do autor. Como bem sabemos, a Crônica Literária classifica-se como gênero narrativo ou argumentativo, onde concebemos o predomínio do gênero narrativo. A parte argumentativa o autor, recorrentemente, o seu apoio de expressar suas ideias se vale do encantamento da música popular brasileiro nos seus diferentes estilos.

O estilo de prosa que o autor emite suas observações provoca reflexão e narra fatos vividos, assistidos ou que lhe foram contados ou pesquisados. Com o lápis e papel na mão, recriou personagens e fez uma espetacular releitura dos acontecimentos. O novelo do fio da meada desenvolveu milimetricamente deixando uma aceleração na mente do leitor que quer ler imediatamente o capítulo posterior; este fio condutor chega à porta de saída do labirinto logo faz o leitor assistir a um lindo cenário de um céu tão radiante de tantas estrelas, que de tão bem focado no céu estrelado do lado do passado, cada leitor encontra a sua própria personagem inserida no contexto narrativo.

Com suporte no registro dos fatos, no acompanhamento linear da história e na evolução do tempo, percebemos que são crônicas literárias que se tornam enredos; enredos que se tornam histórias; histórias que se tornam autobiografia. O nosso escritor Elri Bandeira nega que fez autobiografia. Neste aspecto pontual, nós discordamos, além do autor narrar fatos marcantes de sua própria vida que, por si só, é uma autobiografia, nós constatamos as autobiografias das gerações das décadas de 1950, 1960, 1970, 1980, 1990.

O nosso esforço intelectual chegou a um conceito sobre o seu livro narrativo de histórias/estórias (refere-se aos contos de superstições) do passado, lapidando temas de várias gerações, bem vividos ou mal vividos, numa pequenina cidade no sertão nordestino, podemos conceituar o seu livro como um manual de re-avivamento da memória.

Lemos o livro com muita atenção, evidentemente, a cidade de Pombal, inclusive, muito bem retratada, é o palco dos acontecimentos. Uma pequena cidade localizada no sertão da Paraíba, no Nordeste brasileiro, um povo que vive no ‘habitat’ de contrastes: doçura e amargura; tristeza e alegria; fome e mesa farta; seca inclemente e chuvas com enchentes; violência e tempo de paz; superstições e fé. Inegavelmente, reconhecemos que o sertão paraibano, uma região que apenas existem duas estações: inverno e verão, é marcada por um forte sincretismo religioso entre os fiéis da fé cristã e àquelas de natureza africana ao lado das estórias de assombração e arrancada das botijas que, na mistura de suas crendices e a miscigenação de suas raças, caracteriza-se por ser um povo sorridente e de coração bondoso, cuja maior virtude é a sua hospitalidade.

A fonte de inspiração da infância do autor é o sítio Trincheiras, naqueles idos que a criança levava o tamborete na cabeça para assistir às aulas e aprender o soletrar do abecedário, enquanto que o pai de família cuidava da roça, do gado e da pescaria. A debulha de feijão ou de milho, farinhada, moagem, vaquejada, o folclore (irmandade, congos, pontões e reisado).

Os festejos que traziam muita alegria àquelas crianças pobres de sorriso angelical, na zona rural ou zona urbana, sempre mudam de forma e traquinices, por exemplo, a primeira viagem de pau-de-arara, os banhos de riacho, açude e rio, o jogo de futebol na areia do rio ou a pelada no campinho ermo da cidade.

Na roça havia o lado oposto da bondade, imagina uma criança participando na lavra da atividade agrícola de sobrevivência, o plantio de algodão, feijão, milho, arroz, batata doce, jerimum, melancia, criação de gado, ovelha, porco, galinha. As subidas tresloucadas na mangueira, no pinheiro, no mamoeiro, etc.

A parte de diversão da molecada: caça de aves, pesca no açude ou no rio, as peladas no areal, a troca de gibis, o pião, a bola de gude, o bode guerreou.  A festa da padroeira no vislumbre do parque infantil: roda=gigante, carrossel, canoas, gangorras, o homem que vira macaco. As corridas de cavalo ou jumento.

Qual criança/adolescente, gerações (1950, 1960, 1970) que não fez essas peraltices de meninos aguçados?

O período marcante retratado no livro de 1950/1970, efetivamente, podemos chama-lo de nossa geração.

O capítulo que mais mexeu com a minha emotividade, justamente aquele que se refere ao JOVEM CLUB DE POMBAL, com uma menção ao livro de nossa autoria (JOVEM CLUB DE POMBAL), publicado pela editora Ideia, ano 2016, páginas 201/206. Exatamente, o período de 1976/1978, consideramos o auge de nossa adolescência/juventude, onde nasceu o despertar do nosso amadurecimento. Este período de muita incerteza, mas cheio de idealismo esperançoso: estudo e esperança; trabalho e utopia, temor e diversão. As lágrimas me encheram os olhos de recordação da tamanha vivência juvenil. Logo me fez lembrar o pensamento de Aristóteles: “A esperança é o sonho do homem acordado”.

O autor divide o livro em partes, a II parte subdivide-se em VIII capítulos, que contêm VIII crônicas literárias, (p.p. 223/281), exclusivamente dedicadas à sua ancestralidade quando desenha com um verde vivo sua árvore genealógica e narra a saga do tronco familiar, citando prenome, nome e sobrenome, e, ainda, deixa-nos a informação da origem do apelido familiar (Maniçoba) que veio da denominação do Sítio Maniçoba, e não da árvore euforbiácea, que é uma planta de arbusto nativa da caatinga, principalmente do semiárido nordestino e do centro-oeste. Além do aspecto geográfico da vivência da família Maniçoba, o escritor revela sua religiosidade, suas crenças, superstições, seus costumes e suas manias. Mostra o tipo físico: cor da pele, pigmentação do cabelo, o aspecto do semblante e altura pessoal. A individualização intelectual é definida ora o sábio de conhecimento, ora o iletrado de inteligência.

A parte III, Capítulo I (p.p. 293/334), o autor disseca um extensivo artigo sobre a denominada Ditadura Militar, no período de 1964/1985, que, a nossa sentir, trata-se de um Ensaio Literário, que consiste na exposição das ideias e pontos de vista do autor de forma livre e pessoal com a demonstração específica de um diálogo crítico. Expõe com maestria as linhas divisórias dos movimentos Pró-Ditadura e Anti-Ditadura. A repressão tinha sua linha de ação: propagar o desenvolvimento do país com a construção de obras faraônicas, no campo político verificamos o fechamento do congresso nacional, cassação de mandatos eletivos e suprimento de direitos políticos, intervenção sindical, prisões, torturas, desaparecimentos e mortes de políticos, jornalistas e estudantes; no aspecto jurídico a edição de atos institucionais truculentos e leis repressivas. Além de uma rigorosa censura aos meios de comunicação (rádio, jornal, televisão e revista) composição musical, teatro, cinema, etc. Por seu turno, a linha de ação dos Anti-Ditadura, particularmente, partidos de esquerda, sua reação vinha através de protestos públicos, formação de organização clandestina, panfletagem, sequestros de autoridades, assaltos a bancos, guerrilhas: rural e urbana.

Conhecemos o professor/escritor, Elri Bandeira de Sousa, quando ele era o dono do Fiteiro Continental, no ano de 1974, comprávamos cigarro, chocolate e bombom, onde então eu trabalhava na antiga Coletoria Federal de Pombal. Posteriormente, na segunda metade da década de 1980, eu e Elri Bandeira consolidamos a nossa amizade, por ocasião da fundação da Associação dos Bancários de Pombal, assim faziam parte da diretoria Elri Bandeira – Presidente; e Severino Coelho Viana – Vice-Presidente. Naquela época lideramos grandes movimentos grevistas, realizávamos reuniões, atos públicos e colocávamos batucadas de frente às agências bancárias, quando recebíamos o apoio e a solidariedade dos bancários e da sociedade pombalense. Constatamos que, até esta data, vemos o nosso crescimento laboral, social e intelectual, num gesto de superação ante as adversidades que o tempo reservou a nossa jornada existencial.

Os nossos aclamados parabéns ao professor/escritor Elri Bandeira de Sousa, pelo bem escrito livro, cujo conteúdo revitaliza a nossa memória que encontramos no texto narrativo de suas crônicas literárias.

Recomendamos a leitura do livro: A CASA. O SÍTIO. A CIDADE, de autoria de Elri Bandeira de Sousa, que resgata uma valiosa contribuição à história de Pombal, iniciando com sua fundação (1698) até a era de nossa contemporaneidade, sendo dirigido ao público alvo: as gerações de 1950 a 1970, que com certeza farão uma boa leitura e terão um excelente aproveitamento.

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