Os sinais poéticos de Emília Guerra

Por Linaldo Guedes*

Emilia Guerra já é uma autora bem conhecida da poesia paraibana. Autora de vários livros publicados, Emília chega com mais uma obra ao mercado editorial e às livrarias. Trata-se de “Sinais”, que classifico como uma obra de maturidade poética com ampliação do vocabulário literário e estilístico, sem abrir mão de suas raízes, de suas primeiras influências e, principalmente, de suas reminiscências.

Sim, as reminiscência pontuam a maioria dos versos desse “Sinais”, mas o tom nem sempre é o mesmo. Às vezes vem disfarçado de telurismo; noutras de nostalgia e em algumas de um acentuado lirismo. Esse tom de reminiscência já vem pontuado no primeiro poema do livro. Em “Afluentes”, a poeta consegue ser lírica e cáustica ao mesmo tempo. Diz na última estrofe:

“os afluentes ladeiam todos os desertos

das nossas rotas perdidas”.

 

 

O bom é perceber que a rota de Emília Guerra não está perdida. Pelo contrário, Sua poesia é cheia de achados que encontram eco, com certeza, no leitor mais atento. Como ela mesma diz em um dos poemas do livro, “para os achados e perdidos/ Luz nas brenhas”. Emília é essa luz, que pode vir de diversas formas. Até mesmo em versos temperados com filosofia, como em “Silenciosas moradas”:

“Velas acesas afugentando fantasmas

Clarão da luz que salva

 

Somos guias da límpida visão

A que nos destina

 

O mais são silenciosas moradas

Onde guardamos o brado de dor

De cavernas que nos desatinam”.

 

Emília Guerra não esquece de suas origens em Esperança, bela cidade do brejo paraibano. Vários poemas remetem ao seu mundo telúrico, mesmo quando não falam especificamente da cidade onde nasceu. É o caso do poema “Caminhada”, a falar de porteiras e cancelas para falar das pegadas que o eu-lírico deixa sob o tempo. Ou em “Loção da vida”, ressaltando o cheiro de terra molhada.

Há momentos de intenso teor lírico no livro. Cito, entre eles, o poema “Palavra”:

 

“Não me basta a palavra

Sem fim e incompleta

 

Palavra sobre palavra

É algo mais que a dor

Da flor colhida no jardim

Dos meus ais.”

 

E o que falar dos poemas românticos? Aliás, o romantismo de Emília Guerra vem embalado com pitadas de ironia, de sarcasmo, em algumas vezes com um tom coloquial a desarmar o leitor em versos como esse:

 

“O amor fugindo

Sem sonho e sabor

Iguaria rejeitada

Mesa sem toalha

 

Sangria desatada

Sem verbo

Sem cantada

 

Folia sem Carnaval

É osso duro de roer

Matando cachorro a grito”.

 

Emília Guerra é uma poeta que sabe que “tudo se recria/ inclusive nossos dias”. Sua poesia, assim, está em permanente metamorfose. Sem medo de extravasar sentimentos, de derramar palavras nos “parágrafos dos manifestos declamados”. No olhar triste sobre o canto do pássaro preso na gaiola.

Os “Sinais” de Emília Guerra neste volume poético são vários e amplos. Diversificados, com lirismo, onomatopeias, metalinguagem, saudosismo, influências românticas e modernistas, mas, sobretudo, uma poesia emiliana, com dicção própria. Capaz de evocar poesia por todas as páginas, como na singeleza de “Travessia de jardim”:

 

“Onde me prendi na travessia

De um jardim com flores

E borboletas coloridas

 

Cadeias imagináveis

Viáveis à poesia

Perfumes guardados

De souvenires de festas necessárias

 

Onde me libertei

Arrancando pedaços

Dos meus descompassos

Exausta de uma luta insana

 

Sinto o cheiro do jardim

E perambulo dentro de mim

Eliminando flores murchas”.

(*) Poeta, jornalista e editor. Prefácio escrito para o livro “Sinais”, de Emília Guerra, Arribaçã Editora, 2019

Um comentário em “Os sinais poéticos de Emília Guerra

  1. Meus Parabéns Escritor, Jornalista e Editor Linaldo Quedes pelo excelente Prefácio lançado no Livro ” Sinais ” da Renomada Poetisa Paraibana Emilia Guerra. Análise perfeita. Meus Cumprimentos também a Arribaçã Editora pelos cuidados visuais e gráficos empregados no Livro. Bem como a divulgação do Lançamento. Eu estive no Evento na Livraria do Luiz e pude aferir a receptividade por importantes Personalidades da Cultura ao Livro de Poemas de Emilia Guerra. Abraços e Felicidade ! Carlos René de Oliveira, Escritor. Brasília – Distrito Federal – Brasil, 03 de agosto de 2019.

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