Rascunho epistemológico: Sergio de Castro Pinto: a escrita heurística

Por Wellington Pereira

O poeta Sérgio de Castro Pinto é um exemplo raro daqueles escritores que navegam nos mares da linguagem com raríssimas habilidades linguística e semiótica.

Excelente poeta – consagrado em nível nacional, mas também habilidoso contista – vencedor de concursos nacionais.

Sérgio poderia estar satisfeito habitando as duas margens do caudaloso rio literário, a poesia e a prosa. Mas há uma terceira margem habitada por ele: o ensaio.

Em seu recente livro, “O leitor que escreve”, Editora Arribaçã, Cajazeiras, 2020, Castro Pinto usando a elegância ‘linguageira” – termo empregado pelo linguista Patrick Charaudeau para falar dos domínios das linguagens artísticas – nos coloca na condição de participante de sua narratologia, na qual a condição de leitor ocupa posição central.

Os ensaios do livro tratam de manifestações estéticas ancoradas numa prática literária – mas com algo muito importante: o leitor escreve, reescreve, inventa e reinventa significados.

O título do livro, “O leitor que escreve”, se inscreve a partir de três eixos temáticos: 1) a escrita como método, 2) uma semiótica da leitura, 3) a tensão antropológica entre ler e escrever no imaginário dos povos.

Ter a escrita como método é uma forma de democratizar a leitura – o que nos demonstra Roger Chartier – historiador francês do livro e das formas estéticas da leitura. Portanto, o livro de Castro Pinto recupera o ato de uma escrita que faz parte da capacidade de ler a Prosa do Mundo – como na fenomenologia de Merleau-Ponty.

Uma semiótica da leitura se dá quando o leitor – enquanto autor – ultrapassa os limites do código linguístico e se imiscuir nas vozes oferecidas pelo texto – sem perder a sua – mesmo que a leitura seja silenciosa.

Por último, a ancoragem deste leitor que escreve no imaginário social , muitas vezes traduzida na elegância dos títulos de alguns ensaios, como “O meu livro de João” – texto instigante sobre o livro do escritor João Batista B. de Brito.

Um livro bem escrito que nos remete à heurística: a escrita da alegria.

 

(Wellington Pereira – 06/09/2020)

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