O livro de Helder Moura

Por Francisco Sales Cartaxo

O livro “Dom Zacarias Rolim de Moura: fé e espiritualidade, educação e cultura”, de Helder Moura, é resultado de demoradas pesquisas históricas de um profissional da área de saúde. Não se trata de obra elaborada com rigor metodológico, o que não diminui seu valor. Assim deve ser lido e avaliado.

A ideia de escrevê-lo estava embutida no menino, curioso, ao ouvir conversas domésticas do tio bispo. Conversas das quais ele próprio participou mais tarde. Se essa foi a origem remota do livro, o processo de feitura alargou-se por meio de pesquisas em busca de informações para compreender melhor episódios ligados à Igreja e à ação de prelado. Do seu notório conservadorismo. Dom Zacarias vivenciou diferentes fases da história da Igreja Católica, algumas complicadas, marcadas por fortes conflitos ideológicos e políticos do mundo, transplantados para a vida interna da Igreja.

A esse respeito, o livro traz informações, por exemplo, acerca das divergências de dom Zacarias com os padres italianos, ligados à Teologia da Libertação, que tiveram polêmica atuação na diocese de Cajazeiras. Esses conflitos, contemporâneos do estudante Helder, foram depois registrados pelo escritor, que não confiou apenas na memória, mas buscou entendê-los em suas raízes religiosas e ideológicas. para isso, recorreu a leituras e a depoimentos, em muitas horas de gravação, de quem tem vivência e base teórica, como monsenhor Gervásio Fernandes.

Helder fala do administrador diocesano que enfrentou, de modo muito peculiar, o eterno nó das condições materiais de sobrevivência e expansão da Igreja. O elo educacional, tradição cajazeirense desde sua origem, foi um dos grandes feitos de dom Zacarias. Daí nasceram a primeira escola de nível superior no sertão para a formação de professores, colégios em vários municípios da diocese e outras ações no campo da assistência social.

Registre-se, também, a criação de instrumentos de divulgação, lazer, educação e cultura, como a Rádio Alto Piranhas, o Cine Apolo 11 e Cine Pax, para citar apenas ações notáveis. Ao lado disso, Helder destaca situações e episódios polêmicos, como a saída dos padres salesianos de Cajazeiras, fornecendo versão que desfaz fofocas e mitos em torno de atitudes de dom Zacarias.

O livro é um largo painel para incentivar outros estudos de interesse para a história de Cajazeiras, da Igreja no sertão e na Paraíba, aliás, um dos propósitos expressos pelo autor.

 

(Francisco Sales Cartaxo Rolim é escritor e presidente da Academia Cajazeirense de Artes e Letras – ACAL)

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