SOB O OLHO DE HÓRUS

José Eduardo Degrazia

 

O olho de Hórus acompanha toda a trajetória desse novo longo poema de W. J. Solha, desde o título (que não vou reproduzir aqui) O irreal e a suspenção da credulidade, levando-nos a perguntar o porquê da utilização do símbolo egípcio no poema. O mais óbvio é o uso do desenho, e o que significava para as receitas dos antigos médicos: a recuperação da saúde através do uso de uma receita e seu aviamento. Existe toda uma outra simbologia no Olho de Hórus. Além de afastar os malefícios, de curar os doentes, mas ser o olho clarividente e onipresente (aí entra a maçonaria), que tudo sabe, tudo vê e tudo julga. Seria o caso de pensarmos este poema como o olho do autor que procura entender o mundo e explicá-lo, sabendo que ele é feito de coisas reais e de coisas irreais (símbolos, metáforas, teorias), que o poeta tem de investigar e interpretar, mesmo que sua intenção principal não seja explicar tudo.

Um poema longo é feito, em geral, por fragmentos, que podem até ser lidos independentemente uns dos outros, mas para que esse tipo de construção poética se solidifique, tenha corpo, é preciso que algo solidifique essas partes para que funcionem como um grande objeto único, de cabeça, corpo e membros, articulados.

No caso dos poemas do Solha, penso eu, essa unidade é conseguida pelo conteúdo (a cultura e conhecimento do autor em inúmeras áreas do conhecimento e das artes – a visão de mundo) e pela estrutura dos versos. Quanto a estes últimos podemos dizer que o poeta lança mão de versos curtos, ligeiros, encadeados ao pensamento e às imagens, rimas insólitas, o que leva o texto a ter uma cadência vertiginosa do princípio até o fim. Se tanta imagem histórica e cultural pode desnortear o leitor num primeiro momento, o ritmo faz com que a atenção fique desperta e permite que usufruamos o poema naquilo que ele tem de essencial, o caráter artístico, mais do que o informativo. Alguns versos do poema podem mostrar a intenção do autor:

“A sina – clara como um paradigma

do ser humano

é

decifrar

o enigma!”

O homem, nesse contexto, existe no real do mundo e no “irreal” dos seus pensamentos e sonhos. Essa inquirição do homem sobre si mesmo e o mundo é a sua sina, ao mesmo tempo salvação e danação:

“Todos

com a irReal mas visível sensação demente

de que se é permanente.”

Vemos assim que o autor nos dá a chance de embarcar com ele nessa viagem poética de conhecimento e dúvida, de alegria e desesperança. Não há outro jeito, ou embarcamos nessa viagem no tempo e no espaço, no interior e no exterior, acompanhando o poeta, ou seremos desembarcados. O poema continuará sua viagem sozinho. Melhor seguir viagem com ele.

 

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O livro “O irreal e a suspensão da credulidade: Sexto tratado poético-filosófico”, de W.J. Solha pode ser adquirido AQUI

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